O Carneiro e Oya

Odú: Ogbè Ọ̀sá
Por Ocha ni lele.

Temos um conceito bastante conhecido, sobre o que é permitido aos orixás, entretanto, existe uma falta de conhecimento quando falamos das proibições impostas aos orixás. Este trabalho tem a intenção de reproduzir uma afirmação cubana, por intermédio de um pataki (itan) que fala da relação de Oya e o carneiro, o que até os dias atuais, repercute na relação do orixá Oya.

O conteúdo deste pataki, é bastante relevante, pois o mesmo nos faz raciocinar sobre um conceito que todas as pessoas deveriam seguir, UMA MÃO QUE JÁ ABENÇOOU OUTRA, NÃO PODERÁ LHE AMALDIÇOAR, ou seja, não se pode amaldiçoar aquele que um dia lhe abençoou. Desentendimentos são normais na vida de qualquer pessoa, mas dentro da religião este conceito é mais forte, aquele que um dia rezou por sobre o seu ori, nunca deverá ser amaldiçoado por você. Deixe que ori se encarregue de levar este assunto quando no julgamento final.


Relata então o pataki que Oya e o Carneiro foram uma vez grandes amigos. Havia confiança e confidencia entre os dois. Oya confia ao carneiro tudo que lhe acontecia, Oya tinha um amor pelo carneiro enorme, era de uma confiança inabalável. Ela confiava tanto nele, que se alguém falasse alguma coisa sobre o carneiro, logo ela vinha em sua defesa.


Oya possuía muitos inimigos, todos a queriam morta. A grande guerreira trazia grandes dificuldades aos seus inimigos, não demorou muito, sua cabeça foi colocada a prêmio. Ofertas de riquezas, terras, prosperidade... eram oferecidas pela morte de Oya. A cada local que se ia, a oferta mudava e aumentava, até que certa vez ouviu-se que alguém oferecia vida eterna pela morte de Oya. A oferta chamou a atenção do carneiro, uma vez que era oferecida a imortalidade, ele foi procurar informação sobre o assunto.


O carneiro em suas buscas ficou sabendo que o próprio olorun havia oferecido a imortalidade em troca da vida de Oya, bastava-lhe levar sua cabeça até o seu palácio.


Diante da oferta, o carneiro não pensou duas vezes, foi até olorun e disse que ouviu a oferta sobre a cabeça de Oya e ofereceu ajuda para levar Oya até o palácio de olorun, em troca do prêmio prometido. Dizendo que Oya faria o que ele lhe pedisse.


Olorun não estava acreditando naquilo que estava ouvindo, ele era sabedor de que Oya tinha muitos inimigos que queriam sua morte. Mas sabia da relação de amizade de Oya para o carneiro, e não podia acreditar naquilo que estava ouvindo. Então olorun perguntou ao carneiro, você será capaz de me trazer Oya?


O carneiro responde, que sim, Oya confia em mim, nós somos os melhores amigos, ela fará tudo o que eu disser para ela, trarei ela até você e você mesmo poderá ter sua cabeça, e dar o prêmio oferecido.


"- E que prêmio é esse carneiro?".


- A imortalidade. Não foi isso que prometeu, é o que todos estão dizendo. 


Sem demonstrar sua decepção ao ouvir aquilo do próprio carneiro, disse-lhe que se ele trouxer Oya até a presença dele, lhe daria o prometido. Mas caso ele não conseguisse o seu intuito, ele mesmo serviria a Olorun com sua cabeça.


Tão logo o carneiro deixou o palácio, olorun foi ao encontro de Oya, dizendo-lhe, você tem grandes inimigos, mas nenhum deles poderá lhe fazer mal como o seu melhor amigo. O carneiro foi até mim, oferecer você em troca da imortalidade que ele acredita que eu tenha oferecido.


Incrédula Oya não quer acreditar nas palavras de Olorun, reafirmando o laço de amizade e o grande amor que tinha pelo amigo, que o mesmo não seria capaz de fazer-lhe tamanha traição.


Sei de sua fidelidade ao carneiro, mas ele irá trazê-la até a mim com o propósito de que eu lhe tire a cabeça, em sua troca ele quer a imortalidade.


Olorun não iria mentir para Oya, ela se enche de ódio, fica possuída por uma vontade enorme de destruir o carneiro.


Olorun com sua inteligência, diz a Oya que ela não pode trair um amigo, assim como não pode amaldiçoar aquele que um dia fez juramentos. Disse-lhe que juntasse seus ides de cobre numa caixa, assim que entrar as portas de minha casa, balance vigorosamente a caixa e fortes ventos iriam levar ela de lá.


Olorun disse a Oya, que o carneiro terá a oportunidade de se arrepender de fazer o que esta pretendendo, ele sabe o amor que você tem por ele.


O carneiro foi visitar Oya, dizendo que ela precisava se defender de seus inimigos, que eles são muitos e que estão a espreita aguardando por ela. Que ela fosse com ele porque ele teria um lugar seguro para escondê-la, no palácio de Olorun para lá se abrigar.


Ela não acreditava naquilo que estava ouvindo, totalmente decepcionada disse ao carneiro que iria buscar uma coisa para levar ao palácio de Olorun.


Oya colocou seus 9 ides de cobre numa caixa conforme determinação de olorun, montou as costas do carneiro. Ainda não querendo acreditar na traição do carneiro, Oya deixou que o mesmo a conduzisse. 



Logo o carneiro pegou o caminho do palácio de Olorun, após entrar nos portões do palácio, Oya fez conforme recomendado por Olorun, sacudiu a caixa com força, forte ventos desceram e levaram Oya para longe do carneiro.

Olorun ao saber da presença do carneiro no palácio, manda chamá-lo. Perguntou-lhe por Oya, e o mesmo não soube o que responder, em seguida Olorun disse ao mesmo que ele havia cometido um grave erro ao trair sua melhor amiga, aquela que poderia morrer por ele sem fazer perguntas. Disse ao carneiro que ele Olorun, pudesse querer a cabeça de Oya uma pessoa a quem ele havia abençoado.


Como você não cumpriu o que havia me ofertado, desejando a morte daquela que tanto te amava, amaldiçoando a sua amizade, de hoje em diante carneiro, sua cabeça será minha.


E Olorun então matou o carneiro, ficando com sua cabeça, enviando para os inimigos de Oya como uma mensagem para todos aqueles que querem destruí-la.


Por causa da traição do carneiro, Oya jamais estará num mesmo lugar onde estiver o carneiro, que foi seu melhor amigo, confidente e tentou destruí-la. Por conta deste pataki, os seguidores de Oya jamais estarão presentes em rituais para os orixás que tem o carneiro como seu animal de sacrifício.

Fonte: The Diloggun

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