Era uma vez na Ilha de Guaratiba


Disse o moço  —Preciso  urgente comprar um poço. Fiz uma pesquisa de preço sem muita precisão. Tenho que ter um poço, assim que passar o carnaval.  O moço conseguiu  um cavador de poço. Combinaram o preço e o endereço. – Por favor, é ali, depois da ponte conte  9 passos, que senhor vai encontrar um muro branco cheio bandeirinhas dentro de umas louças,é lá. Pode ir depois do carnaval, não tem problema, as mulheres lá são carecas, andam vestidas de branco e são especialmente simpáticas. Bom...passou o carnaval e o Senhor Cavador não apareceu para furar o poço.--- Isso não vai ficar assim, eu não descanso enquanto não achar esse tratante.
Passaram sete dias, e finalmente, chegou o Senhor Cavador, com seus apetrechos de furar poço. Foi chegando e largando todas as ferramentas pelo chão. –Onde vai ser furado o poço? Pode ser aqui? Não aí perigoso,...mais pra lá um pouco ...E foi pra,  lá e pra cá. Até que foi chegada a conclusão que o melhor lugar era ali... ao lado do banheiro. Só que até então ninguém sabia que não era poço furado, tinha que ser poço cavado, feito com um buraco de mais ou menos 1,20 cm de diâmetro com 6 metros de fundura. O homem foi embora, deixando toda aquela tralha espalhada pelo chão, demorou três dias para vir buscar suas ferramentas. E  nós aqui, esperando outro furador de poço. Esse outro chegou  na Semana Santa, trazendo vontade e esperança.  E QUE FICASSE PRONTO, O NOSSO ESPERADO POÇO. Chegou logo pedindo, os materiais:  seis anéis de concreto 1.20 de dia largura , uma tampa com furinho meio... .......   Quando eu vi, aqueles anéis enormes no quintal...vi um gigante vindo buscar seus anéis. Seus passos fizeram tremer a terra, tremeu tento, tanto, tanto,  que derrubou parte do Haiti e a terra, começo a engolir as pessoas, separando as mães dos filhos, as filhas das avós, era parente partido por todos os lados, foi tanto choro, tanta, tanta lágrima que inundou o Rio de Janeiro, e foi derrubando ponte, desabando casa,  levando mais gente pra debaixo da terra. E enquanto isso o moço que precisava do poço, estava  junto  com sua irmazinha que estava encantada, só dormia e sonhava.   Estavam em um quartinho cheio de luz divina, amparados pra que eles   pudessem  chegar ao fundo do poço..., encostar  cabeça laaaa no fundo e, encontra com seus pais Oxaguiã e Oxalufã – não sei o que queria moço que se agarrava a tudo para não chegar ao fundo do poço.  Será que era medo do pai? Será que era medo da vida do mundo? Sabe como é.. . né ? Agente se mete a mexer com terra com água com o tempo...e isso tudo dá muito medo, e o medo vai criando dureza que nem pedra, que faz ficar difícil furar , quando do se encontra uma, no caminho da cavação.As  vezes agente fica com tanto, tanto medo, que cria pedra dentro da gente, e aí é só bebendo muita água, pra pedras sair, como um parto.  

Os antigos já diziam – Senão por amor é pela dor. Hoje o poço tá lá refletindo o que esta no céu, trazendo o sangue da terra parra nossas vidas. Benditas águas, benditos caminhos benditos aprendizados.Nosso Ilê é assim de inclusão, inclui tudo até realidade com ficção.Entrou  pelo bico do pato saiu pelo cu do pinto quem quiser que conte cinco.
                                                 maio de 2010